Fiat Lux!

No período do Oscar do ano passado tive a curiosidade de entender como eram avaliadas as categorias técnicas como Fotografia, Mixagem de Som, Edição de Som, Efeitos Especiais... e o que cada uma representava. No meio dessa minha pesquisa encontrei o livro “50 anos luz, câmera e ação” de Edgar Moura (que por sinal trabalhou em Cabra Marcado Para Morrer um dos filmes do tema desse mês), e essa profissão acabou me fascinando em todos os sentidos, desde a parte técnica à parte artística. Resumirei um pouco do que absorvi desse livro.

Primeiro de tudo devemos entender o que é fotografia. Como o nome já diz: foto (luz) grafia (escrever), escrever com a luz, a fotografia envolve duas áreas que por muitos são consideradas opostas, a arte e a ciência, pois através das técnicas e equipamentos eles criam essas belas imagens que engrandecem os filmes. E para escrever com a luz o que é importante para fotografia saber sobre ela? Que a luz varia em relação a sua natureza (dura ou difusa), intensidade e direção (direita/esquerda, atrás/a frente, acima/abaixo – em relação à câmera).

Como dentro da indústria do cinema muitas vezes as funções se fundem, é comum acontecer algumas confusões do que se espera de um diretor de fotografia, então o que faz um diretor de fotografia? Grosso modo, o diretor de fotografia é quem lida com tudo relacionado à luz e câmera. Ele orienta os trabalhos dos eletricistas, maquinistas, operadores e assistentes de câmeras, iluminadores, e trabalhar em conjunto com a parte que nos toca a respeito de diretores, cenógrafos e diretores de arte, figurinistas e produtores.

De acordo com o livro “50 anos luz, câmera e ação” podemos resumir o básico da iluminação na fotografia em 3 partes: Ataque, Compensação em relação a esse ataque e Contraluz. Essas 3 subdivisões estão relacionadas a natureza e as localizações que serão posicionadas as luzes para a iluminação do assunto em questão.

A luz de ataque é normalmente representada por uma luz dura, ou seja, uma luz pontual. Esta é a luz “principal” que iluminará o ator/atriz. A função do ataque é dar relevo e para ter relevo, há de ter sombra, e essa é a principal característica de uma luz pontual, projetar uma sombra bem definida. É recomendado que seja usado apenas uma fonte de luz de ataque, se for necessário usar vários ataques, faça com que eles pareçam um só.

Já a compensação é uma luz difusa que tem como principal objetivo iluminar as sombras causadas pelo ataque. A gradação que se vai usar, a natureza e a intensidade dessa iluminação das sombras, é uma das grandes dificuldades e um dos desafios da fotografia. Um dos cuidados que se tem que ter com a luz de compensação é não causar uma segunda sombra no assunto, pois assim configurará como um segundo ataque ao mesmo.

A contraluz é uma luz pontual ou difusa que sempre será colocada na direção contrária da câmera. Ela foi criada com a necessidade de destacar o assunto com o cenário de fundo nos filmes em preto e branco, hoje, apesar das filmagens serem a cores, ainda é utilizado a contraluz, entretanto não mais por obrigação, mas como uma opção artística, por exemplo, ela é bastante usada para as tomadas noturnas para acentuar a silhueta do personagem e/ou definir uma sombra indo em direção a câmera.

Embora pareça simples esse modelo apresentado por Edgar Moura em seu livro, não se engane... o grande mistério/arte da fotografia é saber dosar com precisão a intensidade da luz e sua direção, sem contar a sua sensibilidade artística. Além do conhecimento técnico mostrado até agora, um diretor de fotografia precisa ter o conhecimento sobre os seus equipamentos, ou seja, ele deve saber os tipos de refletores, gelatinas, filtros, gruas, trilhos e demais equipamentos que ele pode utilizar para obter a fotografia que deseja.

Então é isso pessoal, segue ai a ideia geral do que é a fotografia dentro do universo do cinema. É importante prestar atenção nessas categorias mais técnicas, pois graças a eles nós podemos assistir essas obras de arte cinematográfica que tanto amamos.

Precisamos Falar Sobre o Benjamin

Benjamin, de três anos, sentou-se no chão do quarto para assistir ao Rambo matar vietnamitas. Na noite daquele dia, pediu ao pai que lhe comprasse um Revólver do Rambo, daqueles com espoletas. Benjamin não sabia bem se queria matar vietnamitas, mas queria uma arma. Seu pai, no fim de semana, apareceu em casa com algo muito melhor: além do revólver, ele trouxe o coldre da arma, um distintivo de xerife e um chapéu de cowboy. Benjamin agora sabia: queria matar índios.

Uma semana mais tarde, Benjamin foi à feira com a mãe. Ele adorava fazer o passeio, já que sempre voltava para casa com milhões de tangerinas e, às vezes, com um quilo da sua fruta favorita, a siriguela. Porém, dessa vez, na mente de Benjamin, não se tratava de um passeio seguido de compras, mas da escolta da primeira dama do condado, e a ele, o xerife, fora confiada a vida da mulher do prefeito. O menino, de chapéu na cabeça, andava devagar, as mãos na cintura, o olhar taciturno, um fio de mato na boca. Olhava desconfiado para os vendedores, encarava outras crianças e, se elas não percebessem a estrela dourada no seu peito, ele fazia questão de chamar a atenção para a arma na cintura.

Toda a seriedade se desfez quando Benjamin avistou, ao lado de uma cerca com patos, uma dúzia de gaiolas repletas de pintinhos. À postura de xerife seguiu-se o implorar de uma criança à mãe. Aos três anos de idade, Benjamin levava para casa seu primeiro bicho de estimação, um pintinho mais amarelo que o sol.

* * *

No sábado, Benjamin brincava na cama da mãe. O filhote de ave recém adquirido piava sem parar e o menino (ou melhor, o xerife) começava a se impacientar. “Mais um piozinho só e eu o coloco atrás das grade!”, alertou. Um pio foi o que ele obteve em resposta. Benjamin sacou o revólver e chamou a atenção para sua autoridade: “Eu sou o xerife aqui. E é pruibido piá.” Mais um pio. Seguido de outro e mais outro. A criatura debochava de Benjamin. Debochava da Lei. “Mais um pio. Só mais um. Mais um pio e eu MATO você.”, disse o xerife, engatilhando o revólver. O pinto encarou a arma e a criança atrás dela. “Pio?”.

A mulher do prefeito entrou no quarto e deparou-se com a seguinte cena: a cabeça do animal na cama, separada do corpo, que jazia no chão. Ficou claro que Benjamin não gastou uma bala sequer. Ele o fez com as próprias mãos.

* * *

Benjamin era um garoto comum. Ele amava o gato Tom e considerava o rato Jerry um sádico. Achava o Coringa um cara engraçado e o Batman (apesar de ser um sujeito legal) meio mal-humorado. O boneco Chuck (de Brinquedo Assassino) seria, para o pequeno Benjamin, o melhor presente de dia das crianças que ele poderia ganhar. Aos cinco anos, ele ganhou uma irmã.


Foi por pouco, mas ela passa bem.

DOCUMENTÁRIO POLÍTICO: FAHRENHEIT 11 DE SETEMBRO

Em Cabra Marcado Para Morrer, partilhamos da ótica de um cineasta brasileiro sobre um problema do Brasil, mesmo que num microcosmo deste problema. Agora, neste segundo filme do tema Documentário Político, vemos o diretor estadunidense Michael Moore contestar as decisões (e as amizades) do hoje ex-presidente George W. Bush.


Fahrenheit 9/11, 2004
Estados Unidos
dir.: Michael Moore

Há dez anos, Michael Moore entregava ao mundo um filme poderoso, que mostrava as repercussões dos atentados de 11 de setembro e as contraditórias atitudes tomadas pelo governo dos Estados Unidos a respeito. Mais: o filme colocava em xeque as motivações do próprio governo para as posteriores invasões do Afeganistão e Iraque, e ainda falava de ligações entre as famílias Bush e Bin Laden.

Antes de se consagrar vencedor da Palma de Ouro (o maior prêmio do Festival de Cannes), Fahrenheit 11 de Setembro sofreu alguns pequenos problemas para ser distribuído, já que sua distribuidora inicial, a Icon Productions, desistiu do trabalho alegando “conflitos de imagem”, e sempre negando a acusação de que estaria motivada politicamente.

O título do filme faz referência ao livro (e filme homônimo) Fahrenheit 451, uma distopia que se ambienta num mundo com um regime totalitário que queima todo e qualquer livro, sob o pretexto de impedir que as pessoas tornem-se infelizes e improdutivas.



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Músicas marcantes nos filmes

Como bom apreciador de música que sou, para meu texto mensal resolvi escolher 10 músicas de filmes que me marcaram de algum modo. Seja por uma cena, pela música ser chiclete, seja por eu gostar do(a) artista/banda ou o que for! Os filmes não são necessariamente musicais, e minha única regra aqui é colocar apenas músicas cantadas pelos personagens durante a cena, excluindo assim músicas de fundo e os temas sem letra, estilo a marcha imperial de Star Wars, o tema de Tubarão, a música que anuncia a chegada do Super-Homem etc. 

A onda aqui é ouvir e sair cantando, e não apenas cantarolando.

10) Across The Universe - All You Need Is Love

Em 2006 foi lançado esse filme, um musical apenas com canções dos Beatles. A história que não cativa muito, mais parece um bloco de vídeo clips unidos com um pouco de contexto entre um e outro. Mas a película não é de todo mal e traz belas interpretações de alguns sucessos do quarteto de Liverpool. Entre elas, a que encerra o filme, unindo novamente o casal Jude e Lucy, depois de passarem por alguns problemas no seu relacionamento.


9) Aladdin - Um Mundo Ideal

Quem nunca cantou essa música para sua(eu) namorada(o), tá perdendo uma boa oportunidade. Uma melodia linda, com uma letra pra deixar qualquer coração apaixonado derretido. Perfeita pra fazer um dueto com sua(eu) amada(o)!


8) The Wonders - That Thing You Do

Quatro amigos se juntam, montam uma banda e estouram no país todo com um hit, que por ironia, originalmente não era pra ter essa levada. Se você gosta de música, um dia já pensou em estar nessa situação. Além do mais, a música é tão chiclete que você vai passar o dia cantando-a. Ouça-a por sua conta e risco...


7) O Homem do FuturoTempo Perdido

Antes de cantar no MTV ao Vivo Tributo à Legião Urbana, de 2012, Wagner Moura já havia experimentando a sensação de cantar uma música da banda para uma platéia em O Homem do Futuro, de 2011. No filme João Zero (Wagner) e Helena (Alinne Moraes) cantam numa festa da faculdade, onde o "João do futuro" tenta salvar o "João do passado" de uma humilhação na frente de todos. A versão ficou muito boa, não comprometeu em nada! Será que foi daí que Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá tiraram a ideia de chamar Wagner para cantar no tributo?


6) Moulin Rouge - El Tango de Roxanne

Esse clássico do The Police foi recriado de uma forma que arrepia qualquer um que assistiu Moulin Rouge. Na cena, Christian (Ewan McGregor) caminha inconsolado no salão do clube enquanto sua amada Satine (Nicole Kidman) é obrigada a se submeter aos prazeres do Duque de Monroth (Richard Roxburgh). Enquanto isso, a cena de canto e dança é interpretada pelos bailarinos, que mostram como é difícil amar a mais famosa cortesã do Moulin Rouge. A cena fica mais impactante ainda com os cortes para a cena em que Satine está com o Duque. 
OBS.: Vai um mérito mais que honroso também para a encenação de The Show Must Go On.


5) Curtindo a Vida Adoidado - Twist And Shout

Você pode até ser de outro planeta e não conhecer nada sobre Beatles, mas com certeza vai reconhecer essa música. Afinal, quem não lembra dessa cena clássica do cinema, onde temos Ferris Buller (Matthew Broderick) cantando-a, no meio de uma parada da cultura alemã, em plena Chicago? Com certeza, você já viu muitas vezes essa cena na Sessão da Tarde...


4) O Rei Leão - Hakuna Matata

Eu poderia colocar no mínimo umas 3 músicas d'O Rei Leão nessa lista, pois talvez seja o filme da Disney com as melhores músicas que já tem. Mas pra não ficar meio monopolizada a lista, escolhi a que eu acho mais clássica de todas. Todo mundo que ouve "Hakuna Matata" remete logo à dupla Timão e Pumba. Quem nunca saiu cantando "Os seus problemas... você deve esquecer..." que atire a primeira pedra!


3) Grease - Greased Lightning

Tá... eu sei que tem músicas mais famosas do filme, como Summer Nights e You're The One That I Want, mas eu particulamente tenho essa como a minha preferida. Nela, John Travolta pode mostrar todo seu gingado e rebolado sendo o protagonista da cena, tendo os holofotes todos voltados para ele, usando seu carro como aparato para seus passos. Destaque para sua descida montado no motor, que é ótima!


2) Moonwalker - Smooth Criminal

O filme é um lixo, totalmente sem pé nem cabeça: isso é fato. Mas seu ponto forte - que vale pelo filme todo - é a cena no bar, a qual Michael Jackson canta e dança Smooth Criminal. MJ pode ser um péssimo ator, mas nessa versão full da cena, "the king of pop" mostra o porquê ele ganhou esse apelido, usando e abusando de todo seu arsenal de movimentos e passos que ficaram eternizados na mente de todos. Podemos discutir sua qualidade atuando, mas na música e na dança, não há discussão: seu legado será eterno.


1) De Volta Para o FuturoJohnny B. Good

Sou suspeito para falar desse filme, pois tá no meu top 3 de filmes favoritos. Além do mais, não tem como pelo menos bater o pé no ritmo da música e se envolver por um contagiante Marty McFly deixando todos pasmos com sua apresentação no Baile Encantamento do Fundo-do-Mar.
Apesar de parecer, Michael J. Fox não toca guitarra na cena, ele apenas aprendeu como simular todos os acordes, inclusive a parte de trás da cabeça. O jornal Daily Mail disse que o ator gostou tanto da cena que aprendeu a tocar guitarra de verdade, e em 2011, mais de 26 anos depois do lançamento do filme, Fox recriou a cena, agora tocando de verdade. Cena antológica do cinema. 



E aí... sua lista é diferente da minha? Comente qual é seu Top 10! Compartilhe com seus amigos e debatam quais as músicas mais legais!!

DOCUMENTÁRIO POLÍTICO: CABRA MARCADO PARA MORRER

Um documentário que teve suas gravações interrompidas durante 17 anos. Esse é o primeiro filme o qual iremos falar sobre o tema Documentário Político: Cabra Marcado Para Morrer.


1984
Brasil
dir.: Eduardo Coutinho

Eduardo Coutinho era paulista, nascido em 1933. Seus primeiros documentários foram realizados na França, onde foi estudar direção e montagem, graças ao dinheiro de um prêmio ganho respondendo um quiz sobre Charles Chaplin. Ao voltar ao Brasil em 1960, ingressou no Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, e foi escalado para dirigir a segundo produção do centro, justamente Cabra, talvez seu trabalho mais expressivo. Eduardo dirigiu outros documentários, entre eles Santo Forte (1999) e Babilônia 2000 (2000), premiados em festivais nacionais, como o Festival de Gramado, o qual inclusive lhe concedeu o Kikito de Cristal pelo conjunto da obra, em 2007. 

Cabra Marcado Para Morrer conta a história do assassinato de João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas, através dos próprios participantes do caso: os Camponeses do Engenho Caranéia, inclusive a sua viúva, Elizabeth Teixeira, que faria o seu próprio papel. Entretanto, com duas semanas de filmagens, a produção do filme foi interrompida por causa do Golpe Militar de 1964, sobre a acusação de comunismo da equipe: alguns membros foram presos e parte de câmeras e filmagens tinham sido destruídas.

Porém, 17 anos depois da interrupção, o trabalho foi retomado por Eduardo, graças à preservação de parte do material antigo, seja escondido em latas embaixo da cama ou negativos guardados com outro nome. O diretor entrevistou os mesmos camponeses que participaram da primeira parte das gravações, inclusive Elizabeth, que estava escondida em São Rafael, interior do estado do Rio Grande do Norte.  O filme ficou pronto 3 anos depois - 20 anos após o início do projeto - e recebeu 12 prêmios em festivais internacionais, entre eles Berlim, Paris e Rio de Janeiro.


E aí, ficou curioso pra saber o que tanto a Ditadura viu de comunista nesse filme? Pois assista também e compartilhe conosco o que você achou dele! Compartilhe esse post com seus amigos e vamos debater...

... antes que o governo nos proíba disso!

A morte em Harry Potter

Atenção! O texto a seguir está repleto de spoilers!


Lord Voldemort é um bruxo das trevas, habituado a tudo que há de mais perverso. Assim, é curioso que aquilo que ele mais tema seja justamente morrer. Essencialmente, todas as atitudes do vilão (e seu desejo por poder) estão ligadas à sua completa obsessão em suplantar a condição mortal. Para tal, inclusive, ele acaba recorrendo à própria morte como arma. Ele mata para fragmentar sua alma, em busca da imortalidade. Mata um casal, cujo bebê lhe representava uma ameaça. E mata para controlar a Varinha das Varinhas – também chamada “Varinha da Morte”. Morte, morte e morte mais uma vez. Se há um tema central em Harry Potter, este não é a magia.

Em dado momento do filme Harry Potter e a Pedra Filosofal, o jovem Harry encara, pela primeira vez – e graças a um espelho mágico -, os rostos dos pais que ele jamais conhecera. Sua história, inclusive, começa alguns anos antes disso, quando ele se torna célebre ao sobreviver à temível Maldição da Morte, na mesma noite em que fica órfão.

O tema “morte” surge em Harry Potter ilustrado das mais variadas formas. No âmbito literal, já somos introduzidos na saga do menino bruxo com a notícia do homicídio do casal Potter e com o tema da orfandade. Mais tarde, nos deparamos com a morte de um amigo e com a perda repentina de Sirius Black, padrinho do protagonista. Até mesmo a eutanásia do professor Dumbledore é mais que apenas sugerida em certo ponto. Nos dois últimos filmes, a fatalidade atinge os dois lados da batalha, tornando-se ainda mais incessante, e o sacrifício final de Harry, como último recurso para derrotar o vilão, ainda faz rima com aquele enfrentado pelos seus pais para salvá-lo.

Todos os signos encontrados nos filmes da franquia são, obviamente, oriundos dos livros nos quais são baseados. Por isso mesmo, é realmente recompensador para o leitor encontrá-los na tela, transcritos de maneira tão bem feita e atenciosa aos detalhes, já que a morte também se manifesta de maneira simbólica: Dumbledore (personagem de Sir Michael Gambon) surge usualmente representado num figurino de tons de roxo, que, assim como o verde do Avada Kedavra, é uma cor normalmente atribuída à morte. A figura de capuz e foice, aliás, praticamente ganha forma em Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1, na passagem em que, numa animação impecável, Hermione narra o Conto dos Três Irmãos (fábula que, claramente, trata da busca humana em refrear a mortalidade e as dores decorrentes da mesma).

Em tempos em que a morte e o genocídio nas batalhas de blockbusters passam quase que despercebidos, em Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 há um momento em que as perdas são encaradas, para serem então sentidas e refletidas. Coisa aparentemente esquecida em filmes como Superman - Homem de Aço, Círculo de Fogo e toda a franquia Transformers, onde verdadeiras hecatombes são provocadas e as milhares de vidas perdidas sequer são mencionadas, o que traz uma dose muita alta de artificialidade a um clímax que, supostamente, deveria ter algum peso dramático.

Lord Voldemort, cujo nome em francês significa "Voo da Morte" (querendo dizer algo como "Escape/Fuga da Morte"), tem estampado em seu rosto ofídico o resultado de uma vida tentando renegar esta característica tão intrínseca à humanidade. Harry Potter, em suma, é uma série que nos impreciona e impacta com uma mensagem sobre a finitude da vida, e de como a concepção desta realidade (chorada e aproveitada do jeito certo e com as pessoas certas) é o que nos faz tão humanos.


Em memória de Jailson Xavier. Nem tão fã de Harry Potter, mas apaixonado pela Emma Watson. Primo, amigo, irmão.

DOCUMENTÁRIO POLÍTICO

Das séries sobre a vida animal do Discovery aos simplórios makings of de filmes, a retratação da realidade contida no gênero documental sempre me fascinou. Claro que eu nunca fui inocente ao ponto de pensar que essa retratação significasse a realidade real, por assim dizer, já que muito do que eu consumia envolvia estegossauros (e, mesmo criança, eu sabia que colocar um lagarto gigante ao lado de uma câmera Panasonic AVCCAM era uma coisa relativamente difícil de acontecer). No entanto, a simples ideia de que pudesse ser real já me valia uma experiência e tanto.

Mais tarde, ao desenvolver um senso crítico maior a respeito daquilo que me cercava e daquilo que assistia, também me dei conta de que até mesmo os documentários históricos se tratam de uma representação subjetiva da realidade, baseada na visão que o diretor quer empregar ao filme. E, embora o próprio termo documentário se refira a algo “que tem caráter de documento”, ainda hoje existe uma indefinição muito grande acerca do que separa verdadeiramente o documentário do cinema de ficção. O que nos leva ao tema do mês, sobre Documentários Políticos.

Obras sobre política podem seguir certas ramificações, como bem podemos imaginar: elas podem tratar das biografias de políticos, do passo a passo de eleições específicas (e seus candidatos), escândalos, golpes de estado, ditaduras e conspirações, ou mesmo uma crítica ao sistema de saúde ou imigração. São inúmeras as abordagens que um documentário político pode tomar. Seguem alguns exemplos:

  • Bolívia (Bolivia, 2001, Argentina, dir.: Adrián Caetano), sobre a discriminação sofrida pelos imigrantes bolivianos no resto da América Latina.
  • Fahrenheit 9/11 (2004, EUA, dir.: Michael Moore), sobre as causas e consequências dos atentados de 11 de setembro de 2001.
  • Dossiê Jango (2013, Brasil, dir.: Paulo Henrique Fontenelle), sobre as estranhas circunstâncias da morte do presidente João Goulart, expulso do cargo após o golpe de Estado de 1o de abril de 1964.
  • Cabra Marcado para Morrer (1984, Brasil, dir.: Eduardo Coutinho), sobre a vida de João Pedro Teixeira, líder camponês assassinado em 1962, através das palavras de sua viúva, Elizabeth.
  • A Batalha do Chile (La Batalla de Chile, 1979, Chile, dir.: Patricio Guzmán), trilogia sobre o golpe de 1973. É tido como um dos maiores e mais impactantes documentários políticos já feitos.
  • A Corporação (The Corporation, 2003, EUA, dir.: Mark Achbar / Jennifer Abbott), sobre o poder das corporações no mundo moderno, através da mídia e das instituições.

Ao admitir a discussão sobre o que é realmente de caráter político ou não em filmes que não tratem do tema "estatal", o Documentário Político não fica, consequentemente, restrito a este campo. Quebrando o Tabu (de Fernando Grostein Andrade), por exemplo, lida com a temática de combate às drogas e acaba por tratar de política. Assim como o recente Elena (de Petra Costa), ao "discutir temas tabus do universo feminino e da saúde mental".

A política é vastíssima. O universo documentável é infinito.

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As estrelas fora do armário

Recentemente, a declaração de Ellen Page sobre sua sexualidade causou alvoroço no meio cinematográfico. Porém, convém dizer que a atriz canadense de 26 anos não foi a primeira neste âmbito a se assumir homossexual para o grande público.

Queen Latifah (Chicago), o nome mais legal do meio artístico (depois de Shia LaBeouf), declarou em 2012, em uma parada gay, orgulhosa de estar "no meio de seu povo" e que esperava para "fazer isso há muito tempo". 

O ator norte-americano Zachary Quinto, que interpreta o comandante Spock em Além da Escuridão – Star Trek, se declarou homossexual displicentemente em uma entrevista sobre o seu trabalho em um musical que tinha como personagem um gay portador do vírus da AIDS. Quinto defendeu que como um homem gay, isso o fazia sentir que ainda há muito trabalho para ser feito sobre os direitos dessa parcela da sociedade.

A atriz Jodie Foster (O Silêncio dos Inocentes) confirmou em janeiro de 2013, ao receber um prêmio pelo conjunto da obra durante a 70ª edição do Globo de Ouro, a sua homossexualidade. Foster declarou em seu discurso: “Espero que vocês não fiquem desapontados por não haver um grande discurso de saída do armário nesta noite. Já saí do armário uns mil anos atrás, na Idade da Pedra.”.

E o Magneto, hein? Quem diria? Sim, ele mesmo. Na verdade, o inglês Ian McKellen (também conhecido por seu trabalho como Gandalf na trilogia O Senhor dos Anéis), de 74 anos, disse estar surpreso por seus colegas de trabalho não saberem da sua orientação sexual desde o começo da sua carreira, uma vez que assumiu ser gay publicamente em 1988, durante uma entrevista na BBC Radio.

Além dos atores, há uma gama de outros profissionais dentro do mundo cinematográfico declarados gays, como o cineasta espanhol Pedro Almodóvar (A Pele que Habito). Reza a lenda que o seu filme sobre homossexualidade e pedofilia (Má Educação) trata-se de uma autobiografia, rumor desmentido pelo mesmo. Outro seria Bryan Singer, diretor de muitos filmes da franquia X-Men, em cujo universo não é difícil de traçar um paralelo com o discurso preconceituoso do mundo real.

No Brasil, Marco Nanini (O Auto da Compadecida), se definiu como gay em uma entrevista à revista Bravo. Esta afirmação, no entanto, não impediu o ator de interpretar papéis de pais de família heterossexuais ou cangaceiros cascas-grossas.

Viu quanta gente talentosa sendo feliz em assumir quem verdadeiramente é? E você aí? Ainda diz “Fulano é muito competente apesar de ser gay.”? Pois declarações como essa e a clássica “Não sou homofóbico. Tenho, inclusive, muitos amigos gays.” acabam reforçando um sentimento em que sempre se percebe tanto a mulher quanto o homem gay como criaturas aparte do que se convenciona “normal”. Um sentimento que, somado ao machismo e à homofobia pura e simples, reprime o homossexual a tal ponto que declarações que deveriam ser banais como o “Eu sou gay.” da Ellen Page, veem carregadas de nervosismo e de embargo na voz. Muitas vezes essas declarações nunca são feitas. Por medo de que uma trajetória artística ascendente vá de “uma história de sucesso e conquistas” para “filme de terror”.

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DISTOPIA: NÃO ME ABANDONE JAMAIS

“Um soberbo e comovente filme sobre o amor eterno.” foi a frase publicada pela revista TIME para definir a distopia que finaliza o tema do mês.


Never Let Me Go, 2010
Reino Unido, Estados Unidos
dir.: Mark Romanek

Baseado na obra de Kazuo Ishiguro, e estrelado por Andrew Garfield (O Espetacular Homem-Aranha), Keira Knightley (Orgulho e Preconceito) e Carey Mulligan (O Grande Gatsby), Não Me Abandone Jamais é uma co-produção entre Inglaterra e Estados Unidos. Com direção de Mark Romanek, nome por trás de videoclipes de estrelas do mundo pop, como Madonna, o filme também conta com roteiro de Alex Garland (A Praia).

O filme conta a história de Tommy (Garfield), Ruth (Knightley) e Kathy (Mulligan), envolvidos em um triângulo amoroso. A peculiaridade da história está no fato de que os três personagens são espécimes criados em laboratório para fornecer os seus órgãos a pacientes gravemente enfermos, algo já visto em A Ilha, de Michael Bay.

Uma curiosidade é a de que a atriz Carey Mulligan precisou prestar aulas intensivas de direção, necessárias para sua personagem. Reprovada, obrigou a produção a filmar as cenas em uma estrada particular para que ela pudesse conduzir sem trazer problemas legais para a produção. Não Me Abandone Jamais foi Eleito um dos melhores filmes de 2010 pela TIME.


Os outros filmes distópicos do mês foram Brazil: O Filme e Gattaca – Experiência Genética.

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Evolução do Cinema Brasileiro

Confesso que nunca fui muito fã de filmes brasileiros, na minha cabeça, sempre relacionei a produção cinematográficas brasileira com filmes de comédias ou infantis (temas que não são os meus preferidos), entretanto a pouco tempo atrás comecei a ler um livro sobre resenhas, o nome do livro é “Os melhores filmes novos – 290 filmes comentados e analisados” (Luciano Ramos) e dentre os temas abordados no livro o que mais me chamou atenção foi “Filmes Brasileiros”. Hoje em dia essa minha impressão está desaparecendo, visto as mudanças e os investimentos que estão surgindo nesse novo quadro da 7ª arte brasileira.

Percebendo que o cinema brasileiro sofreu uma evolução, com vários filmes sendo premiados e consagrados em festivais cinematográficos, com a visibilidade que nossos artistas brasileiros estão tendo fora do país e principalmente pelo exponencial crescimento de produções cinematográficas nacionais, fiquei interessado em saber como e quando foi que ocorreu essa mudança dos filmes nacionais e daí veio a ideia de pesquisar sobre o histórico do nosso cinema em ascensão.

Tudo começa com putaria. Nas décadas de 70 e 80 o Brasil estava passando por uma grande crise e nessa época, a qualidade do cinema foi deixada de lado, os filmes de temática simples, consumo fácil e de caráter sexual são produzidos em larga escala. Os filmes realizados nessa época e com essa temática são conhecidos como “pornochanchada”, entretanto neste mesmo período alguns cineastas produziram filmes bons e de qualidade, como, Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) e Xica da Silva (1976).

Dona Flor e Seus Dois Maridos (Bruno Barreto, 1976)
Xica da Silva (Cacá Diegues, 1976)
Os anos 90 foram de grande produção do cinema brasileiro, mas precisamente em 1995 ocorreu uma grande mudança no quadro cinematográfico do Brasil. Com politicas de incentivo e empresas patrocinadoras, o Brasil começa a produzir filmes que mobilizaram grande número de espectadores para o cinema. No período de 1995 à 2005 a produção de filmes nacionais cresceram exponencialmente e os filmes de maiores bilheterias ficaram com os de temática infantis (daí nasceu meu preconceito), principalmente aqueles que envolvem personagem televisivos populares, como os filmes da apresentadora Xuxa e do comediante Renato Aragão e seu querido personagem Didi.


Xuxa e os Duendes (Paulo Sérgio Almeida, 2001)
O Noviço Rebelde (Tizuka Yamazaki, 1997)
Hoje o quadro da produção cinematográfica no Brasil está melhor do que nunca. Nunca se produziu tanto quanto agora, com temas tão variados e qualidade para competir com o cinema exterior, a prova disso é o filme Tropa de Elite 2 que foi cotado para concorrer, em 2012, ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Fora esse, existem vários outros filmes de qualidade com os mais variados temas: policial (Tropa de Elite), suspense/terror (Quando Eu Era Vivo), drama (Casa de Areia), documentário (Elena), entre outros.

 

 


Infelizmente, mesmo com a melhora, a produção e divulgação do cinema brasileiro ainda são muito dificultadas, uma vez que a indústria cinematográfica do Brasil ainda não pode ser considerada autossuficiente, porque os produtores ainda necessitam de ajuda dos incentivos fiscais para se sustentar, sobre tudo, pelo governo federal.

Alguns fatores devem ser considerados para justificar a nossa limitada capacidade produtiva em termos de cinema, como: a concentração das empresas produtoras no estado do Rio de Janeiro e São Paulo; a concorrência das empresas internacionais que dominam o mercado cinematográfico mundial; o preço do ingresso que sempre foi superior ao poder aquisitivo do brasileiro em suas épocas correspondentes, entre outros.

É importante saber também que as empresas internacionais influenciam fortemente o setor de produção e exibição cinematográfica do país, que ficam à mercê dos acordos comerciais que lhe são impostos. O setor produtivo depende delas para chegar às telas de cinema e o setor exibidor, para ter acesso a produções que, provavelmente, serão rentáveis em bilheterias. Para garantir maiores rendimentos por meio de melhores índices de público, essas empresas preferem exibir as superproduções americanas. Essas superproduções, como são distribuídas pelas grandes empresas internacionais que dominam o setor de distribuição, chegam ao mercado ainda com número de cópias bastante superior ao das produções nacionais, o que provoca um cenário excludente ao cinema nacional.

Visto esse quadro desfavorável da distribuição e exibição dos filmes brasileiros, acabamos perdendo a oportunidade de ter acesso a vários filmes nacionais excepcionais que estão sendo feitos na atualidade, como exemplo, Estômago (Marcos Jorge, 2008), Não Por Acaso (Philippe Barcinski, 2007),  Jogo de Cena (Eduardo Coutinho, 2007), entre vários outros.




E vocês? Curtem filmes brasileiros? Qual o melhor filme nacional que vocês já assistiram? Nos dêem indicações.

DISTOPIA: GATTACA - EXPERIÊNCIA GENÉTICA

Dando prosseguimento à apresentação dos filmes desse mês com o tema Distopia – se você ainda não sabe o que é, clique aqui –, coube a mim falar dessa ficção científica. Com vocês, Gattaca – Experiência Genética.


Gattaca, 1997
Estados Unidos
Dir.: Andrew Niccol

Conhecido por assinar o roteiro de outras ficções, como Simone e O Show de Truman, Andrew Niccol também assume o papel de diretor e roteirista deste longa, com Ethan Hawke (Dia de Treinamento), Uma Thurman (Kill Bill) e Jude Law (Closer – Perto Demais). Um filme de ficção, mas com um tema bem comum: a divisão de classes entre pessoas. Neste caso, entre seres humanos criados geneticamente em laboratório, com o intuito de serem melhores sucedidos, e os “biologicamente criados”, teoricamente menos evoluídos. 

Arrecadando o valor do seu custo em praticamente um mês, Gattaca ganhou alguns prêmios na França, Inglaterra e Alemanha, mas apenas concorreu ao Oscar e ao Globo de Ouro de 1998. Em contrapartida, o longa foi escolhido pela NASA como uma das ficções científicas mais realistas já feitas, juntamente com Jurassic Park e Contato, entre outros. Outra curiosidade desse filme é que Ethan Hawke e Uma Thurman se conheceram durante as filmagens, o que mais tarde deu em casamento: os dois foram marido e mulher entre 1998 e 2003, tendo dois filhos dessa relação.


Não se esqueça que essa semana ainda tem texto, e que semana que vem, falaremos do último filme escolhido para o tema, Não Me Abandone Jamais.

E aí... quer provar que os seres biologicamente criados também podem ser evoluídos? Então comente o que achou! Compartilhe com seus amigos e vamos mostrar que não precisamos de modificação genética para sermos bem sucedidos!

Cinco teasers

O trailer é uma arma de divulgação poderosa: atiça a curiosidade do público, instiga algum burburinho e reforça o interesse pelo filme. O teaser trailer, uma variação desse conceito, não se difere muito - em geral, ele antecipa a publicação do trailer propriamente dito -, sendo mais curto e funcionando como um aperitivo do trailer vindouro. Mas nem sempre foi assim. Até o começo do século ainda eram comuns os teasers feitos à parte da obra, como curtas-metragens que não necessariamente estavam inseridos no corte final. Aqui, listamos alguns dos mais memoráveis quando pensamos neste conceito.

O ILUMINADO (1980)
Stanley Kubrick fazia questão de participar da concepção dos trailers de seus filmes, jamais revelando muito, e inserindo neles o tom da narrativa. No caso de O Iluminado, um de seus filmes mais celebrados, ele fez questão de exibir o elevador do Hotel Overlook jorrando sangue.



Com a voz em off do Agente K (Tommy Lee Jones) descrevendo com sobriedade a missão da MIB, o trailer consegue exprimir bem o espírito jocoso presente no filme, ao mesmo tempo em que nos intriga com a inventividade da sua sinopse.



HANNIBAL (2001)
Mostrando quase nada, a chamada desta continuação de O Silêncio dos Inocentes exibe uma série de recomendações que não só prendem a atenção do espectador como fazem o pouco que é mostrado ter ainda mais relevância.



Sem dúvida, o melhor desta franquia é o esquilo Scrat, cuja primeira aparição deve ter sido responsável por uma bela parcela da bilheteria, neste que se tornou um clássico dos trailers.



HOMEM-ARANHA (2002)
O primeiro trailer do filme mostrava o Homem-Aranha capturando o helicóptero de um grupo de assaltantes, usando uma teia entre as duas torres do World Trade Center. Porém, após os atentados terroristas de 11 de setembro, o vídeo foi retirado dos cinemas.



Lembra de algum outro teaser marcante? Compartilhe com a gente, deixe o link!

DISTOPIA: BRAZIL - O FILME

Dando início às apresentações dos filmes escolhidos pela equipe para o primeiro tema de 2014 - Distopia -, nada mais apropriado que começar com um que traz referências claras à obra imortal de George Orwell, 1984: o longa-metragem britânico de humor Brazil: O Filme.


Brazil, 1985
Reino Unido
dir.: Terry Gilliam

O diretor e escritor Terry Gilliam (um dos membros fundadores do grupo de comédia Monty Python) é conhecido por preencher seus trabalhos com ironia, surrealismo e o non-sense, além de um visual único, a exemplo do que se vê em Monty Python em busca do Cálice Sagrado, Os 12 Macacos e O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus. E, pelo que nos aponta a sinopse de Brazil: O Filme, Gilliam combina aqui todas estas características, numa tragicomédia curiosamente ambientada numa sociedade oprimida por um regime totalitário.
Tendo Jonathan Pryce (Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra) no papel do protagonista Sam Lowry, o filme conta com Jim Broadbent (Moulin Rouge!) e Ian Holm (O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel), além da participação de Robert De Niro (Taxi Driver). A produção foi um fracasso de bilheteria, arrecadando somente metade de seu custo. Concorreu a dois Oscars: Melhor Roteiro Original e Melhor Direção de Arte, sem sucesso; mas, nomeada ao BAFTA, recebeu os prêmios de Efeitos Especiais e Desenho e Produção.

Uma curiosidade: o uso da palavra “Brasil” no filme remete, claro, ao nome da nossa amada pátria – e o uso de "Aquarela do Brasil" na trilha é mais do que uma dica disso -, mas também é uma referência à ilha mítica de Hy-Brazil, em cuja lenda constam as raízes etimológicas do vocábulo "Breazil". Muito adequado, já que a tal ilha era tida como um lugar idealizado, abençoado, utópico.


Nós dividimos a apresentação do tema em três partes que serão divulgadas ao longo de fevereiro, estando reservados para as próximas semanas Gattaca e Não Me Abandone Jamais.

Já foi vítima da mão opressora do Estado? Deixe seu comentário e colabore com a discussão. Não tema a Polícia do Pensamento, compartilhe!

Você tem medo de monstros?

Para minha primeira crônica do blog, tive que pensar um bom tempo. Passaram-se várias ideias pela minha cabeça, o que por um lado é bom, pois tenho muitos temas, mas por outro é ruim, pois você não sabe qual escolher para o momento. Ao parar um pouco para relaxar, fui rever Jaspion - sim, eu sou velho, e se você não sabe o que é isso, clique aqui! Baixei todos os episódios, e assistindo o Tokusatsu (nome para essas séries japonesas), vendo Jaspion lutar com um monstro diferente por capítulo, me surgiu o tema para o meu texto: 

MONSTROS!

Sim, monstros! Afinal, o cinema tem monstros conhecidíssimos, como Godzilla, King Kong, os Gremlins, Kraken de Piratas do Caribe entre tantos outros. Pra não ficar nos mais badalados, dei uma pesquisada e baixei alguns filmes sobre monstros, sejam mutações genéticas, alienígenas ou o que raio for, e fui assistindo para falar com um pouco mais de embasamento sobre eles! Aliás, uma regra meio que básica para assistir filmes de monstros é livrar-se de preconceito: salvo algumas exceções, não assista um filme com monstros esperando que seja uma história que você se emocione, que faça você tirar uma lição de moral ou que te faça pensar por mais algum tempo sobre como esse filme te influenciou. Simplesmente, veja-os por puro e mero prazer, seja para rir das teorias meio malucas, para reparar nos efeitos especiais ou apenas como um bom passatempo em que você quer apenas relaxar, sem precisar pensar ou se preocupar com nada.

Monstros de filmes geralmente mobilizam um arsenal inteiro com tanques, helicópteros, armas pesadas, napalms e até bombas atômicas para derrubá-los. Mas diferentemente disso, temos o peixe mutante de O Hospedeiro (Gwoemul), de 2006, o qual não foram usadas armas de fogo contra ele. As armas que realmente acabaram com ele foram oriundas dos irmãos da família Park, que por causa do monstro, tiveram a filha de um deles sequestrada e o pai morto. Misturando drama com um pouco de comédia, o filme não compromete de forma alguma. Acho que o maior ponto negativo desse filme foi por culpa minha mesmo: ao baixá-lo na internet, não percebi que estava dublado em inglês. Ou seja, vi um filme coreano, dublado em inglês e legendado em português (viva à Globalização). 

Monstro de O Hospedeiro

Outros monstros tem como pontos fracos coisas que você não imaginaria de forma alguma. Imagine monstros "caretas", que tem como ponto fraco drogas? Tá rindo aí? Mas saiba que tem sim: vide os monstros de Prova Final (The Faculty), de 1998, e Grabbers (Grabbers), de 2012. No primeiro, de Robert Rodriguez, com atores ainda não tão famosos na época - como Elijaah Wood, Famke Janssen, Salma Hayek e Jordana Brewster, que futuramente seriam o Mr. Froddo, Jean Grey, Frida Kahlo e Mia Toretto da saga Velozes e Furiosos, respectivamente -, estudantes tentam impedir que alienígenas propaguem-se na Terra, tomando os corpos dos humanos como hospedeiros. Já em Grabbers, como a própria sinopse do filme diz, os moradores de uma Ilha irlandesa tem que ficar bêbados para serem salvos, pois o monstro não tolera álcool no sangue deles. Tem monstro mais politicamente correto do que esse? E quer local melhor do que na Irlanda, conhecida por ser uma terra de "beberrões", para esse filme ser rodado e vivenciado? Hahaha.

Alienígena de Prova Final

Monstro de Grabbers

Alguns monstros não precisam nem aparecer para tocar o terror: vide Cloverfield - Monstro (Cloverfield) e O Caçador de Troll (Trolljegeren). Os dois filmes são no estilo Found Footage e os monstros praticamente não aparecem durante o filme, mas afugentam as cidades as quais as películas são ambientadas. Mesmo assim, há diferenças entre os filmes. Em Cloverfield, o governo quer destruí-lo totalmente, sem dó e nem piedade, usando de todo o arsenal bélico possível, ao longo de um filme bem acelerado, no qual o monstro pode aparecer a qualquer momento - deixando o espectador meio tenso durante o longa -, enquanto que no norueguês O Caçador de Troll, o filme é cadenciado, com o caçador escolhendo hora e local para caçar os Trolls da região, além do fato de que o governo tenta encobrir o caso, chegando a ser até cômica a forma como tentam fazer isso. (Bônus para as belas paisagens da Noruega vistas no filme).

O monstro de Cloverfield (preste atenção que ele aparece rapidinho no filme)

Um dos Trolls de O Caçador de Troll

Pra não dizer que só falei de monstros malvados, vou terminar meu texto com três filmes que mostram monstros "bonzinhos": Os belíssimos Meu Monstro de Estimação (The Water Horse), O Labirinto do Fauno (El Laberinto del Fauno) e Onde Vivem Os Monstros (Where the Wild Things Are). Eles não só encantam os olhos como também os marejam - assim como fizeram com os meus - por contar histórias singelas de amizade e superação das adversidades - explícitas ou implícitas -, vistas aos olhos de crianças (Angus, Ofélia e Max, respectivamente) que vencem seus problemas com a ajuda de seus amigos monstros. De brinde, os filmes tem fotografias belíssimas, que deixam você fascinado com as paisagens.

O monstro (Crusoé, para os íntimos) de Meu Monstro de Estimação

O fauno do Labirinto do Fauno

Carol, um dos monstros de Onde Vivem Os Monstros

E aí? Gostou? Comente aí embaixo! 
Sentiu falta de algum monstro? Comente aí embaixo!
Não gostou? Bem... 


Comente aí embaixo também! O importante é a sua participação! 


E divulgue-nos! Faça esse blog crescer!

Abraços pros manos, beijos pras minas! Valeu e até a próxima!

DISTOPIA

Esse foi o tema escolhido por mim, Pedro, na nossa 22ª reunião do Cinestéricos e a primeira que será tratada aqui no blog. Mas o que diabo significa isso?

"Distopia ou antiutopia é o pensamente, a filosofia ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utopia ou promove a vivência em um utopia negativa."

Entenderam? Não? Não se preocupem, tentarei explicar. Atualmente esse tema tem estado na boca de todo o mundo literário. Está na moda criar obras literárias numa realidade distópica, como os famosos livros da saga Jogos Vorazes, Feios e Divergentes. Entretanto a definição desse termo é bastante difusa, existe uma definição geral, que descrevi acima, que abarca todas as subdivisões do tema; só que essa definição é muito vaga e abrangente, sendo assim difícil de determinar se certo livro ou filme é uma distopia ou não.

Tentarei elucidar um pouco essa questão; e para isso, vamos para a origem da palavra. O primeiro uso conhecido da palavra 'distopia' apareceu num discurso ao Parlamento Britânico por Gregg Webber e John Stuart Mill, em 1868. Nesse discurso, Mill disse:

"É, provavelmente, demasiado elogioso chamá-los utópicos; deveriam em vez disso ser chamados dis-tópicos ou caco-tópicos . O que é comumente chamado utopia é demasiado bom para ser praticável; mas o que eles parecem defender é demasiado mau para ser praticável."

Portanto, Mill se referia a um lugar mau, ao oposto de utopia.




Mas ainda assim, como definir as “n” subdivisões da distopia, como: distopia que é a que trata do governo opressor vs oprimido; distopia tecnológica (também conhecida como Cyberpunk), definido por “quanto maior o conhecimento científico, pior a qualidade de vida da população”; a distopia pós-apocalíptica é aquela cuja pessoa tem que sobreviver num mundo pós-apocalíptico (guerra nuclear, desequilíbrio da natureza...); E ainda: criminosa, prazerosa, alienígena, feminista e corporativa.

Enfim, são inúmeras as classificações de um mundo distópico; e falar que um filme ou livro é simplesmente distópico não tem como saber se estão falando sobre a sobrevivência num cenário destruído, numa crítica à desumanização causada pela evolução tecnológica, se será uma simples aventura em busca de algo perdido ou colocar em evidência o abuso do poder.

As distopias são geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo e/ou por opressivo controle da sociedade; ou seja, geralmente se apresenta como uma forma de limitação da liberdade de forma negativa. Alguns casos são extremos, como acontece em 1984 e Jogos Vozares, cujo personagem passa por um processo de desumanização. Em outros exemplos, como em Fahrenheit 451, a pessoa perde a liberdade de pensar; e em Destino – Matched, a pessoa perde a liberdade de ser diferente, e por ai vai.

Resumindo, no fim das contas, a distopia se desenvolve quando as pessoas perdem suas liberdades básicas. Se vocês listassem as declarações dos direitos e elaborassem um mundo restringindo tudo o que tem na lista, criariam uma versão extremamente negativa do nosso mundo, ou seja, um mundo irrealmente negativo, maligno... um mundo distópico.

Fora os filmes citados do texto, segue a lista de alguns filmes considerados distópicos:

  • Alphaville (Jean-Luc Godard – 1965);
  • Planeta dos Macacos (Franklin J. Schaffner - 1968);
  • Laranja Mecânica (Stanley Kubrick - 1971);
  • Soylent Green (Richard Fleischer - 1973);
  • BladeRunner (Ridley Scott – 1982);
  • 1984 (Michael Radford - 1984);
  • Brazil (Terry Gilliam – 1985);
  • Robocop (Paul Verhoeven - 1987);
  • Gattaca (Andrew Noccol - 1997);
  • O Show de Truman (Peter Weir - 1998);
  • Clube da Luta (David Fincher – 1999);
  • Matrix (Andy Wachowaski; Lana Wachowski - 1999);
  • MinorityReport (Steven Spielberg - 2002);
  • Equilibrium (Kurt Wimmer - 2002);
  • AEon Flux (Karyn Kusama - 2005);
  • Sin City (Robert Rodriguez; Frank Miller; Quentin Tarantino - 2005);
  • V de Vingança (James McTeigue - 2005);
  • Filhos da Esperança (Alfonso Cuarón - 2006);
  • Watchmen (Zack Snyder - 2009);
  • Não Me Abandone Jamais (Mark Romanek - 2010);

Entre outros...