Precisamos Falar Sobre o Benjamin

Benjamin, de três anos, sentou-se no chão do quarto para assistir ao Rambo matar vietnamitas. Na noite daquele dia, pediu ao pai que lhe comprasse um Revólver do Rambo, daqueles com espoletas. Benjamin não sabia bem se queria matar vietnamitas, mas queria uma arma. Seu pai, no fim de semana, apareceu em casa com algo muito melhor: além do revólver, ele trouxe o coldre da arma, um distintivo de xerife e um chapéu de cowboy. Benjamin agora sabia: queria matar índios.

Uma semana mais tarde, Benjamin foi à feira com a mãe. Ele adorava fazer o passeio, já que sempre voltava para casa com milhões de tangerinas e, às vezes, com um quilo da sua fruta favorita, a siriguela. Porém, dessa vez, na mente de Benjamin, não se tratava de um passeio seguido de compras, mas da escolta da primeira dama do condado, e a ele, o xerife, fora confiada a vida da mulher do prefeito. O menino, de chapéu na cabeça, andava devagar, as mãos na cintura, o olhar taciturno, um fio de mato na boca. Olhava desconfiado para os vendedores, encarava outras crianças e, se elas não percebessem a estrela dourada no seu peito, ele fazia questão de chamar a atenção para a arma na cintura.

Toda a seriedade se desfez quando Benjamin avistou, ao lado de uma cerca com patos, uma dúzia de gaiolas repletas de pintinhos. À postura de xerife seguiu-se o implorar de uma criança à mãe. Aos três anos de idade, Benjamin levava para casa seu primeiro bicho de estimação, um pintinho mais amarelo que o sol.

* * *

No sábado, Benjamin brincava na cama da mãe. O filhote de ave recém adquirido piava sem parar e o menino (ou melhor, o xerife) começava a se impacientar. “Mais um piozinho só e eu o coloco atrás das grade!”, alertou. Um pio foi o que ele obteve em resposta. Benjamin sacou o revólver e chamou a atenção para sua autoridade: “Eu sou o xerife aqui. E é pruibido piá.” Mais um pio. Seguido de outro e mais outro. A criatura debochava de Benjamin. Debochava da Lei. “Mais um pio. Só mais um. Mais um pio e eu MATO você.”, disse o xerife, engatilhando o revólver. O pinto encarou a arma e a criança atrás dela. “Pio?”.

A mulher do prefeito entrou no quarto e deparou-se com a seguinte cena: a cabeça do animal na cama, separada do corpo, que jazia no chão. Ficou claro que Benjamin não gastou uma bala sequer. Ele o fez com as próprias mãos.

* * *

Benjamin era um garoto comum. Ele amava o gato Tom e considerava o rato Jerry um sádico. Achava o Coringa um cara engraçado e o Batman (apesar de ser um sujeito legal) meio mal-humorado. O boneco Chuck (de Brinquedo Assassino) seria, para o pequeno Benjamin, o melhor presente de dia das crianças que ele poderia ganhar. Aos cinco anos, ele ganhou uma irmã.


Foi por pouco, mas ela passa bem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário