DOCUMENTÁRIO POLÍTICO

Das séries sobre a vida animal do Discovery aos simplórios makings of de filmes, a retratação da realidade contida no gênero documental sempre me fascinou. Claro que eu nunca fui inocente ao ponto de pensar que essa retratação significasse a realidade real, por assim dizer, já que muito do que eu consumia envolvia estegossauros (e, mesmo criança, eu sabia que colocar um lagarto gigante ao lado de uma câmera Panasonic AVCCAM era uma coisa relativamente difícil de acontecer). No entanto, a simples ideia de que pudesse ser real já me valia uma experiência e tanto.

Mais tarde, ao desenvolver um senso crítico maior a respeito daquilo que me cercava e daquilo que assistia, também me dei conta de que até mesmo os documentários históricos se tratam de uma representação subjetiva da realidade, baseada na visão que o diretor quer empregar ao filme. E, embora o próprio termo documentário se refira a algo “que tem caráter de documento”, ainda hoje existe uma indefinição muito grande acerca do que separa verdadeiramente o documentário do cinema de ficção. O que nos leva ao tema do mês, sobre Documentários Políticos.

Obras sobre política podem seguir certas ramificações, como bem podemos imaginar: elas podem tratar das biografias de políticos, do passo a passo de eleições específicas (e seus candidatos), escândalos, golpes de estado, ditaduras e conspirações, ou mesmo uma crítica ao sistema de saúde ou imigração. São inúmeras as abordagens que um documentário político pode tomar. Seguem alguns exemplos:

  • Bolívia (Bolivia, 2001, Argentina, dir.: Adrián Caetano), sobre a discriminação sofrida pelos imigrantes bolivianos no resto da América Latina.
  • Fahrenheit 9/11 (2004, EUA, dir.: Michael Moore), sobre as causas e consequências dos atentados de 11 de setembro de 2001.
  • Dossiê Jango (2013, Brasil, dir.: Paulo Henrique Fontenelle), sobre as estranhas circunstâncias da morte do presidente João Goulart, expulso do cargo após o golpe de Estado de 1o de abril de 1964.
  • Cabra Marcado para Morrer (1984, Brasil, dir.: Eduardo Coutinho), sobre a vida de João Pedro Teixeira, líder camponês assassinado em 1962, através das palavras de sua viúva, Elizabeth.
  • A Batalha do Chile (La Batalla de Chile, 1979, Chile, dir.: Patricio Guzmán), trilogia sobre o golpe de 1973. É tido como um dos maiores e mais impactantes documentários políticos já feitos.
  • A Corporação (The Corporation, 2003, EUA, dir.: Mark Achbar / Jennifer Abbott), sobre o poder das corporações no mundo moderno, através da mídia e das instituições.

Ao admitir a discussão sobre o que é realmente de caráter político ou não em filmes que não tratem do tema "estatal", o Documentário Político não fica, consequentemente, restrito a este campo. Quebrando o Tabu (de Fernando Grostein Andrade), por exemplo, lida com a temática de combate às drogas e acaba por tratar de política. Assim como o recente Elena (de Petra Costa), ao "discutir temas tabus do universo feminino e da saúde mental".

A política é vastíssima. O universo documentável é infinito.

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